O Rio Grande do Sul, terra de grandes façanhas e orgulho das tradições está em estado de calamidade e a preocupação maior agora é com a preservação de muitas vidas e a busca de novos rumos para recomeçar depois de quase tudo destruído na maioria das cidades, um cenário de terra arrasada jamais imaginado. Muitas famílias perderam tudo e a ajuda humanitária não está sendo suficiente devido à urgência em salvar famílias inteiras, animais e transportar para locais seguros.
Não se fala no momento em recuperação das moradias, isso é assunto para quando a água retornar ao leito dos rios. Santa Maria tem mostrado muitas cenas que emocionam a cada momento, pessoas em situação de risco, voluntários se arriscando também para salvar vidas, além do efetivo da sociedade civil organizada e das forças oficiais. Mas ainda não é hora de contabilizar os prejuízos, estamos cientes que serão muitos, é hora de conseguir recursos para salvar vidas. Não dá para imaginar o que as pessoas tinham em casa, documentos, fotografias, objetos de arte, roupas e utensílios domésticos adquiridos ao longo da vida, além da edificação de um patrimônio muitas vezes de grande valor cultural como temos na quarta colônia de imigração italiana.
O centro histórico de Santa Maria é constituído de igrejas, teatro, prédios tombados ou em fase de recuperação e sabe-se que não foram afetados, além da ação do tempo. Isso se deve à distância de rios e configuração geológica da cidade. Em Porto Alegre, o centro histórico foi construído no nível das águas pelo menos 9 prédios históricos foram tomados pela enchente do Lago Guaíba. Os servidores tiveram o cuidado de remover a reserva técnica dos museus para locais seguros, locais mais altos, ainda que os danos nas estruturas ainda não puderam ser mensurados já que o nível das água continuou subindo.
No centro histórico, a água chegou à Praça da Alfândega tombada pelo Iphan onde estão o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) o Memorial do Rio Grande do Sul e o Farol Santander, prédios do início do século 20. A Casa de Cultura Mário Quintana, também inundada, tem no térreo a Livraria Taverna, cujos livros foram retirados a tempo. Entre tantos acervos culturais, muitos itens correm o risco se perder, não vai ser fácil, mas especialistas estarão atuando certamente para restaurar os prédios e documentos como os que sofreram com a ação da água no Arquivo da Universidade Federal de Santa Maria.
A força tarefa de recuperação busca atuar junto a políticas voltadas à preservação do patrimônio, com foco em mudanças climáticas ainda inexistentes no país de dimensões territoriais e características específicas nas regiões.
Essas ações deverão ser fundamentais para desenvolvimento de estratégias de prevenção, bem como analisar as vulnerabilidades específicas dos bens culturais em cada região. São indicativos de que algo está mudando e que essas mudanças possam ser permanentes, uma realidade que não tem como fugir ou negar.
Texto originalmente publicado na Coluna Plural do jornal Diário de Santa Maria
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