O Balé Aquático, ou nado sincronizado – como também é conhecido – é um esporte desenvolvido no Canadá na década de 1900 que une os conceitos da natação, ginástica e dança. Exige força, resistência, flexibilidade, benevolência, arte e o sincronismo preciso, sem mencionar o controle excepcional da respiração quando estiver de cabeça para baixo na água, e é executado quase exclusivamente por mulheres.
Conhecido por sua graciosidade e beleza, o Balé Aquático já foi o principal destaque esportivo da cidade. Dezenas de meninas fizeram parte de uma equipe que marcou a história e levou o nome da cidade aos quatro cantos do país os números artísticos apresentados pelas atletas na piscina do Clube Praça de Esportes, na década de 1950 e meados de 60 viriam a ser um orgulho para a cidade, um tesouro na história e um passaporte para o sucesso nacional.
Tudo começou em 1955, através do casal de treinadores Elza e Heitor Mattos que selecionaram 18 moças para fazer parte da primeira equipe, eram elas: Eleutheria de Oliveira, Anna Helena Pacheco, Cleuza Arantes, Ângela Maria Gori, Eleyse Rosas, Eliene Rinaldi, Elza Magri Brandão, Heliane Damiano Collares, Kerma Linhares, Liana Rosa, Marcy Moura Silveira, Maria Enilce Teixeira, Maria das Mercês Barleta Pereira, Martha Maria Gravino, Martha Trajano, Nilza Cavalieri Lauria, Vera Maria Souza Cunha e Zulma Lauria. Depois de quatro meses de treinamento, foi apresentado em Ubá o segundo balé aquático do Brasil – o primeiro é o do Fluminense F.C. Devido às dificuldades que apareceram no início de sua formação, quase ninguém acreditava que a ideia fosse levada à frente, mas os técnicos não desistiram e, enfrentando dificuldades, conseguiram realiza-la.
Rosalvo Braga, em seu livro ‘Nenúfares – As Meninas do Balé Aquático de Ubá’ descreve a noite de estreia: “A Semana da Pátria de 1955 foi a escolhida para a estreia do Balé Aquático. A grande movimentação na Praça de Esportes indicava que um espetáculo estava por acontecer, mas como seria? Pelo nome, uma dança na água. Era pouco para a informação e muito para a imaginação.... Lá estavam elas. Volta pela orla da piscina, elegantíssimas meninas deixavam entrever estudados passos de balé. Para se lançar à água, o rigor da uniformidade: absolutamente verticais, furavam a pele líquida ao feitio de agulha, sem provocar agitação. Dali partiam em formação de figuras, perfeita sincronia de movimentos em obediência aos contornos da trilha sonora. Delírio na plateia, boquiabrindo-se ante maravilhas nunca vistas na cidade”
Naquele momento, em setembro de 1955, começava um dos mais belos capítulos do esporte ubaense. Naquele dia, ao fim da apresentação, Martha Trajano, a solista da equipe, era coroada a Rainha do Balé Aquático de Ubá, posto que, segundo ela, permanece até hoje “não houve outra coração, por isso ainda sou a rainha do balé”, conta Martha entre risos.
O sucesso das meninas de Ubá ultrapassou nossas fronteiras, numa época em que a comunicação não era em tempo real, fazer sucesso e ser reconhecido em todos os quadrantes do país era algo surpreendente. A TV dava seus primeiros passos, a extinta TV Rio, fez coberturas inéditas do Balé nos Jogos da Primavera e nos Jornais da Tela, que antecediam as sessões dos cinemas, lá estavam as meninas sendo aplaudidas. E os jornais do Rio e de outras capitais, além das revistas “O Cruzeiro” e “Manchete”, então campeãs de circulação, estampavam o sucesso das “meninas de Ubá” em suas páginas. O Balé e Ary Barroso dividiam o sucesso do momento. E Ubá se orgulhava.
Naquela época, sem estradas asfaltadas, vencer as distâncias era uma aventura. Mas nada tirava o ânimo das meninas, que nadavam por amor. E tome Rio de Janeiro, com participação destacada nos famosos Jogos da Primavera realizados no recém-inaugurado Maracanãzinho, Patos de Minas, Belo Horizonte, Uberaba, Uberlândia, São Paulo, dezenas de outras cidades e o Nordeste - em longa e vitoriosa excursão - e outros tantos convites recusados devido ao quase impossível deslocamento, e sendo todas estudantes, impedia o já famoso Balé de aceitar os convites. Até mesmo uma excursão ao exterior foi recusada por absoluta falta de tempo. Foram 13 longos anos de sucesso e orgulho para os ubaenses.
Revendo as velhas fotografias e relendo as páginas amarelecidas dos jornais e revistas, revisitamos um passado não muito distante e que não pode ser esquecido. O Balé Aquático de Ubá merece, no mínimo, uma mostra permanente para que as gerações passadas e futuras conheçam nossa história. Sucessos reconhecidos pela imprensa, viagens pelo Brasil, reconhecimento nacional, mas apesar de muito apreciado o Balé por vezes foi podado de certos eventos por falta patrocínio. A prefeitura não tinha condições de bancar tais eventos e os empresários da época não contribuíam com recursos suficientes para que o Balé se expandisse. Em 1968 a ultima turma do Balé Aquático se dissolvia, as meninas estavam se formando e mudando de Ubá e o casal Heitor e Elza voltaram a morar em Belo Horizonte, onde faleceram no final dos anos 1970.
Sem continuadores, o Balé Aquático virou um marco na história cultural ubaense. A lembrança do tesouro de Ubá ainda vive.
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