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A visita de Dom Pedro II a Ubá

Baseando-se em alguns documentos antigos e, até mesmo, o Diário do próprio Imperador, podemos traçar um relato dos fatos que fizeram que essa ilustre personalidade estivesse na cidade

25/04/2021 às 12h34
Por: Redação Fonte: Miguel Batista - Historiador - Reprodução Revista IN
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Família Real na época da visita a Ubá
Família Real na época da visita a Ubá

É sabido por alguns que o Imperador Dom Pedro II esteve em Ubá, mas poucos sabem detalhes dessa história, e nem mesmo que ele esteve aqui por duas vezes. Baseando-se em alguns documentos antigos e, até mesmo, o Diário do próprio Imperador, podemos traçar um relato dos fatos que fizeram que essa ilustre personalidade estivesse em Ubá.

Primeira Visita

A primeira visita de Dom Pedro a essa cidade aconteceria entre 29 e 30 de abril de 1881, mas estava programada somente no retorno de sua viagem a Barbacena, como contou em seu diário “Guardei para a volta minha visita a Ubá”. Porém a passagem da comitiva do Imperador por Ubá causou grande fervor na população que, incrédulos, acompanhavam a chegada do trem. Uma banda de música tocando o hino nacional e grande delírio e aplausos da população marcaram essa passagem, mas Dom Pedro II, conforme havia sido planejado, não parou na cidade. 

Era do interesse do Imperador resolver um impasse acerca da transposição da Serra de São Geraldo para a ampliação da ferrovia. O projeto de construção tinha como objetivo chegar a Ponte Nova e o Imperador veio pessoalmente vistoriar a construção, pois havia uma divergência entre os engenheiros ingleses e Lynch (que era brasileiro), quanto a possibilidade de transpor a serra. Lynch organizou um grupo composto de escravos e índios e subiu a serra a cavalo, traçando o trajeto a ser feito pela ferrovia.

Ao retornar de São Geraldo, a comitiva pernoitou na Fazenda da Liberdade, de propriedade do político Cesário Alvim, a quem buscava apoio político devido a perda do prestígio do Império na corte. “Às 6h chegada ao ponto de onde fomos em trole até à fazenda do Cesário Alvim” escreveu o Imperador em seu diário. A Fazenda da Liberdade era uma grande produtora de café, chegando a colher nove mil arrobas por ano e, como empresário, Cesário Alvim possuía, em Ubá, um engenho com capacidade de produção 600 mil arrobas, por dia. Dom Pedro já conhecia Cesário Alvim e sua família, de algum contato anterior, em Petrópolis, apelidando-o de “Calado”. Quanto à família de Cesário Alvim, o Imperador definiu como “filhos muito bonitos, inteligentes e instruídos para sua tenra idade”. 

A Fazenda da Liberdade - onde Dom Pedro II teria se hospedado em Ubá - está localizada próxima da estação de Peixoto Filho, local onde possivelmente o Imperador desceu e foi levado de carruagem 

 

 

 

No dia seguinte, ao meio dia, o comboio voltava à estação para que a família imperial cumprisse seu programa na cidade, conforme relatou Rosalvo Braga: “A pequenina Ubá de três mil habitantes viveu em 29 e 30.04.1881, um dos acontecimentos mais marcantes de sua história: a visita do imperador Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocadio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança, ou, simplesmente, D. Pedro II, acompanhado de sua consorte, D. Tereza Cristina, além de integrantes da corte Imperial”.

Segundo Rosalvo Braga, Pedro II era um homem irrequieto e, provavelmente por esse temperamento, dispensou a condução que o levaria até a Matriz de São Januário, pouco se importando com as condições de D. Tereza Cristina que mancava ao caminhar.

O caminho até a Igreja São Januário era algo impensável para os dias de hoje, não propriamente a rota, mas o cenário. O que é hoje a Praça Guido Marlieri não contava mais do que com uma pobre construção onde mais tarde existiu o Grande Hotel e nada mais. Cumprido esse trajeto, ganham a rua São José, então conhecida como Rua do Barreiro (por motivos óbvios). As ruas da cidade não tinham nenhum tipo de calçamento, sendo assim foram capinadas e limpas às pressas e ornadas de folhas de palmeiras pela população da cidade.

O Imperador e sua esposa, acompanhados pelo povo, seguiram pela rua São José entrando pela rua do Comércio, hoje rua Peixoto Filho e atingiram o Largo de São Januário onde foram diretamente para a Igreja Matriz, a antiga que começou a ser demolida e reedificada em 1931, perdendo as duas torres. Saindo da Igreja, Dom Pedro II visitou a Câmara e o Fórum, que funcionava em um velho sobrado da Praça São Januário, local onde hoje é a empresa Energisa. No térreo desse prédio se instalava a cadeia, onde o Imperador viu um detento acorrentado e ordenou que se retirassem as correntes “Este homem está na prisão e, mesmo assim, preso e acorrentado. Retirem os grilhões” teria dito o Imperador.

Na Câmara recebeu as homenagens de praxe e partiram rumo à Rua do Comércio, em direção à estação Ferroviária. Fez uma pequena parada na casa do Comendador Antonio Gomes Pereira e, saindo daquela residência, um carro os aguardava para os levarem à estação. À esquina da Rua do Comércio com as ruas São José e Santo Antônio, uma multidão correu para ver o Imperador enquanto a Imperatriz, muito amável e sorridente, saudava as pessoas agitando um lenço branco enquanto a população batia palmas à família imperial.

Sobre o objetivo da passagem de Dom Pedro em nossa cidade há um ponto de conflito. Muitos acreditam que o mesmo teria estado na cidade para a inauguração da Estação Ferroviária, porém, em nenhum dos ricos relatos do Imperador houve menção de sua vinda para essa inauguração e o prédio da Estação Ferroviária ainda nem existia. Esse fato é confirmado em texto publicado no jornal Folha do Povo em 19 de janeiro de 1952 de autoria de Rosalvo Braga: “A estação primitiva guardava estilo tosco, rude mesmo: suas paredes eram feitas de tábuas imbricadas, encimadas por telhas convencionais”.

Segunda Visita

Dom Pedro II esteve por outra vez em Ubá, entre 30 de junho e 1º de agosto de 1886, mais uma vez apenas de passagem, dessa vez, porém, atendendo a um convite para inaugurar o prolongamento da Estrada de Ferro Leopoldina em Ponte Nova.

A composição que levou o Imperador parou novamente em São Geraldo. Um vagão aberto, especialmente preparado, foi colocado à frente do comboio, e nele embarcaram Dom Pedro, a Imperatriz, membros da Corte, autoridades da Província e diretores da Leopoldina. A máquina, que vinha a seguir, puxava três outros vagões; nas Estações de Coimbra, Viçosa, Teixeiras, Roberts e Vau-Açu, Dom Pedro foi saudado por populares que aguardavam sua passagem. 

Ainda pela manhã, a composição chegou a Ponte Nova e, na estação, Dom Pedro II embarcou com destino a Xopotó (onde aconteceria a inauguração). Lá, o Imperador, com toda a sua comitiva, foi recebido pelo Dr. José Mariano Duarte Lanna, médico e proprietário de grande fazenda naquela região. Inauguração da estação, discursos, foguetório, aplausos, cumprimentos e um banquete na fazenda do Dr. José Mariano constaram da agenda de Dom Pedro, na Estação do Piranga, ou Xopotó. No mesmo dia, a comitiva retorna, passa por Ponte Nova e vai pernoitar em Ubá.

Dom Pedro II chegou a Ubá ao entardecer. Desta vez ele não se hospedou na fazenda de Cesário Alvim, pois o mesmo se encontrava no Rio de Janeiro como Presidente da Província. Seu pernoite foi na cidade de Ubá, fato esse que gera dúvidas quanto ao local, pois não existe, por parte do Museu Imperial, registros desse período.

 

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Eduardo Contin GomesHá 1 ano Belo HorizonteExiste o registro no diário e feito pelo próprio Imperador de que em 1881 na estação ferroviária do Pântano lhe foi servido um café pelo Comendador Antônio Gomes Pereira e Silva ei Imperador observou que aquele lugar era um Diamante, daí em diante o Pântano se tornou o conhecido Distrito de Diamante de Ubá. Às xícaras do café não foram lavadas e ficaram conservadas por muitos anos pelos descendentes do Comendador e, muito tempo depois não sabemos mais do seu paradeiro. Sou trineto do Comendador.
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