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Os franciscanos em Ubá

Conheça a história de Frei Pedro, Frei Cornélio e Frei Júlio e suas realizações

27/06/2021 às 12h41 Atualizada em 28/06/2021 às 19h54
Por: Redação Fonte: Miguel Batista - Historiador
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Frei Pedro
Frei Pedro

Os Franciscanos assumiram a Paróquia de São Januário, de Ubá, por 50 anos. Logo que saiu padre Jésus Brandão chegaram a Ubá Frei Pedro, Frei Cornélio e Frei Júlio. Ali onde encontramos hoje a casa paroquial tinha uma casinha velha de dois andares. Procuraram os engenheiros do DER na época, desmancharam a casa e, em dois meses, outra estava construída. Esta foi a primeira obra que os Franciscanos fizeram na cidade, e foi nesse tom que eles educaram Ubá nos 50 anos seguintes. 

Frei Pedro tinha um vozeirão, e era muito amigo de todos. Frei Cornélio era meio tímido e Frei Júlio era ‘caladão’. Em cada grupo que a gente encontrava pela cidade, tinha alguém comentando coisas sobre eles. Ficaram muito famosos e muito fizeram em prol da comunidade.

Frei Cornélio

 

A pobreza na época era geral e as mães não tinham sequer um litro de leite para dar aos filhos. Eles montaram a Creche ABC e fizeram lá a ‘campanha do leite’. Foi um sucesso. A fábrica de gaiolas, na época, fabricou grades que comportavam seis garrafinhas de leite que, cheias, davam um total de dois litros. Era leite para a criança tomar durante o dia. Em casas que tinham mais de uma criança, ficavam duas grades.

Pergunte a alguém com mais de 60 anos se lembram da ‘Campanha do Quilo’ feita por Francisquinho de Lucca. Ele pegava sua caminhonete e ia com sua esposa e um ou dois empregados de porta em porta recolhendo donativos para dar aos pobres. Isso foi por longos e longos anos. Salvaram os Vicentinos da batalha de alimentar o povo. Isso tudo teve apoio da Paróquia de São Januário, através dos três franciscanos. 

Ali no bairro São João eles construíram um conjunto de casas para viúvas, que foram vendidas recentemente. 

Quando tudo estava tranquilo, Frei Pedro foi à Holanda visitar seus parentes, e voltou de lá com 800 mil dólares no bolso, doados por sua irmã. Encontrei com ele no jardim São Januário e ele me disse: “Precisamos construir um hospital que doe mais de 70% para os pobres”. E eu disse para ele: “Procure o senhor Jésus Brandão, que ele lhe vende o ‘Vai e Vem’. Sabe o que é o Vai e Vem? É o local onde encontramos hoje o hospital Santa Isabel.

Procuramos Jésus Brandão e ele disse: “Vendo por 800 mil dólares”. Frei Pedro respondeu: “Dou 600, porque 200 eu preciso para começar a obra”. E foi o que aconteceu. Montou uma equipe onde toda a comunidade ubaense estava ligada à paróquia São Januário e fizeram aquela magnífica obra que hoje atende a Ubá e região.

Para construir o Hospital Santa Isabel mobilizou-se toda a cidade. Fizeram rifa de carro, barraquinhas, e angariaram fundos de todo jeito. Os administradores não ganhavam nada. Sabe quem foram eles? Bento Batista Costa (senhor Bento da Caulenita), Ibsen Gomes do Carmo, João Batista Rodrigues, Alberto Andrade, Aloísio Mota, Fernando Mota e outros. A direção ficou ao encargo de Bento Batista Costa e Frei Cornélio. 

Eu me lembro que Frei Cornélio pegava sua motinha, passava a Avenida Raul Soares, a Governador Valadares, subia o Morro do Divino empurrando a motinha e quando chegava ao alto ele montava na ‘dita cuja’ e ela o levava até o hospital. Isso acontecia no mínimo três vezes por dia, de manhã, à tarde e à noite. 

Paróquia de São Januário

O tempo foi passando, o hospital ficou pronto e o ideal, que era entregar 70% dos leitos para a população carente, foi realizado. Hoje isso é feito através do SUS. Frei Pedro e Frei Cornélio não reformaram a paróquia de São Januário. Fizeram tudo e de tudo para atender à comunidade. Veio o final de vida e Frei Pedro morreu. Vocês precisavam ver o que aconteceu no dia da morte dele. Deu uma grande chuva às três da tarde que arrancou a maior árvore do jardim, como se dissesse: “O pau grande caiu”. E ele era um desses paus. Dois anos depois morreu Frei Cornélio. Frei Júlio morreu na Holanda e outros Franciscanos foram chegando. Os restos mortais de Frei Pedro e Frei Cornélio estão sepultados aqui no cemitério de Ubá.

A única reforma feita na igreja foi por Frei Adriano, dirigida por mim, que ficou inacabada. Chegou Frei Juvenil com a mesma raça dos primeiros freis e em oito anos tornou a fazer outra avalanche de obras em Ubá. Fez essa reforma que temos hoje na igreja, construiu a belíssima casa paroquial junto com o Cantinho de São Francisco, e também começou as obras da igreja de Nossa Senhora da Glória. Entregou a paróquia para Frei Marcelo e este vem conservando todo o feito pelo seus antecessores.

Um caso interessante de Frei Marcelo. Ele nasceu em Linhares, no Espírito Santo. O pai dele tinha uma empresa beneficiadora de madeira, chamada Santos e Garcia. Na construção do Hospital eu pedi ao pai dele para nos doar toda a madeira de escoramento e tapume das lajes. E não é que ele deu? Vejam como a vida dá voltas. Frei Marcelo entregou a paróquia para a diocese, consciente do dever cumprido e do muito feito em prol da comunidade. 

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